Glorificação da barbárie
Esses dias eu li num artigo onde não me lembro mais sobre o filme Tropa de Elite. Nele falava da vergonha que o Wagner Moura tem de ter feito esses filmes (foram dois). Porque o tiro saiu pela culatra, com perdão do trocadilho: ele esperava que fosse gerar uma revolta da sociedade diante de tanta violência na tela, mas não. O público aplaudiu de pé a guerra e a brutalidade. Aliás, nem sei se essa informação sobre a vergonha do ator é verdadeira, mas me deixou pensando caso seja.
Não estou aqui defendendo bandido nem dizendo que a polícia é santa, pois as duas afirmativas estão erradas. Estou apenas tentando refletir sobre o resultado totalmente contrário ao que se esperava de um filme como esse. Ao que parece, aconteceu uma glorificação da barbárie que acontece dos dois lados dessa moeda chamada relação entre a polícia de elite e o poder paralelo que governa as favelas. Favelas sim, porque acho comunidade um termo construído para amenizar a realidade que se vive ali, já que o poder público se lixa pra essa população é só quer resolver a coisa na base do tiro (vide as UPPs) . Com gente inocente. É isso não é opinião . É fato diario estampado em jornal. Estão aí Amarildos e Claudias que não me deixam ser inverídica nesses casos.
Estou usando essa vergonha alheia pra dizer que há muito fomos tomados pelo discurso de que favelado é tudo bandido ou está envolvido , nunca morre inocente. Uma das afirmativas mais cruéis que se pode fazer do povo de trabalha cerca de 16 horas por dia pra fazer com que os nossos serviços básicos como coleta de lixo e limpeza de ruas, por exemplo, sejam invisíveis porque bem executados.
Empregadas domésticas que acordam às quatro e voltam pra casa nove da noite. Profissionais de limpeza de hospitais que impedem que tenhamos uma septicemia no caso de uma internação. Camelôs que passam o dia em pé debaixo de um sol escaldante pra ganhar trocados. Mas são gente digna como nós, "as pessoas de bem" expressão que, aliás, me gera uma tremenda irritação. Bem pra quem?
Mas nós assistimos o primeiro Tropa sedentos pelo segundo. E saímos do cinema nos achando justiçados imaginariamente pelos capitães Nascimento dentro da nossa vontade de eliminar a pobreza feia e fétida que nos rodeia e nos enoja. Enquanto isso, na cela de justiça, inúmeros jovens negros inocentes são trancafiados e mortos. Lembram do rapaz que carregava pinho sol nas manifestações de junho e que foi preso só por isso? Continua lá. Sem prova alguma de que tenha cometido o delito mais simples. Mas é negro. Pobre. Não tem parente advogado nem pai que conhece desembargador. E nós aplaudimos a barbárie e queremos sangue, de culpados e de inocentes, não é problema nosso.
Isso aqui é apenas uma reflexão minha. Não acho que devemos coroar o crime. Mas muito menos coroar um sistema que mata todos os dias pessoas que nem chegam a ser gente de fato, conhecedora de seu direito à vida.
É isso.
Espero que realmente o Wagner Moura, ator que admiro muito, tenha se envergonhado de engrossar o coro da glorificação da barbárie nossa, que de tão cotidiana virou normal e praticamente invisível.
Beijos a todos.
Feliz Ano Novo.
Não estou aqui defendendo bandido nem dizendo que a polícia é santa, pois as duas afirmativas estão erradas. Estou apenas tentando refletir sobre o resultado totalmente contrário ao que se esperava de um filme como esse. Ao que parece, aconteceu uma glorificação da barbárie que acontece dos dois lados dessa moeda chamada relação entre a polícia de elite e o poder paralelo que governa as favelas. Favelas sim, porque acho comunidade um termo construído para amenizar a realidade que se vive ali, já que o poder público se lixa pra essa população é só quer resolver a coisa na base do tiro (vide as UPPs) . Com gente inocente. É isso não é opinião . É fato diario estampado em jornal. Estão aí Amarildos e Claudias que não me deixam ser inverídica nesses casos.
Estou usando essa vergonha alheia pra dizer que há muito fomos tomados pelo discurso de que favelado é tudo bandido ou está envolvido , nunca morre inocente. Uma das afirmativas mais cruéis que se pode fazer do povo de trabalha cerca de 16 horas por dia pra fazer com que os nossos serviços básicos como coleta de lixo e limpeza de ruas, por exemplo, sejam invisíveis porque bem executados.
Empregadas domésticas que acordam às quatro e voltam pra casa nove da noite. Profissionais de limpeza de hospitais que impedem que tenhamos uma septicemia no caso de uma internação. Camelôs que passam o dia em pé debaixo de um sol escaldante pra ganhar trocados. Mas são gente digna como nós, "as pessoas de bem" expressão que, aliás, me gera uma tremenda irritação. Bem pra quem?
Mas nós assistimos o primeiro Tropa sedentos pelo segundo. E saímos do cinema nos achando justiçados imaginariamente pelos capitães Nascimento dentro da nossa vontade de eliminar a pobreza feia e fétida que nos rodeia e nos enoja. Enquanto isso, na cela de justiça, inúmeros jovens negros inocentes são trancafiados e mortos. Lembram do rapaz que carregava pinho sol nas manifestações de junho e que foi preso só por isso? Continua lá. Sem prova alguma de que tenha cometido o delito mais simples. Mas é negro. Pobre. Não tem parente advogado nem pai que conhece desembargador. E nós aplaudimos a barbárie e queremos sangue, de culpados e de inocentes, não é problema nosso.
Isso aqui é apenas uma reflexão minha. Não acho que devemos coroar o crime. Mas muito menos coroar um sistema que mata todos os dias pessoas que nem chegam a ser gente de fato, conhecedora de seu direito à vida.
É isso.
Espero que realmente o Wagner Moura, ator que admiro muito, tenha se envergonhado de engrossar o coro da glorificação da barbárie nossa, que de tão cotidiana virou normal e praticamente invisível.
Beijos a todos.
Feliz Ano Novo.
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