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Mostrando postagens de outubro, 2017

O ÓDIO FAZ PARTE DE NÓS

O ódio faz parte da nossa constituição humana. A agressividade é tão pulsional, presente e verdadeira na nossa psique como o amor. Os dois parecem ter uma mesma intensidade e capacidade de nos absorver por completo. Sentir raiva faz parte dos nossos sentimentos, e ela pode ser produtiva de uma forma benéfica. Como assim? Em vários textos seus Freud falou do ódio como parte instinto humano; Lacan falou disso que sentimos desde pequenos quando chega um irmãozinho, o que ele chamou de complexo de intrusão, aquele ódio que sentimos por sermos deslocados do nosso trono de glória  pelos nossos país, que o dão ao bebê que chegou sem nos consultar. Por outro lado, a agressividade está ligada à atividade, ao impulso de realizar, não é só para dizimar o outro, embora isso seja parte dela. A nossa dificuldade em nos relacionarmos muitas vezes está relacionada a essa vontade de extinguir quem pensa diferente, por exemplo. Como as leis nos 'impedem' de matar o próximo, tomamos a tal d

O TEMPO DE CADA UM

Muito cedo ou muito tarde? Qual o tempo certo de processar o que nos acontece e seguir a vida? Julgamos muitas atitudes das pessoas pelo tempo que achamos correto para que elas façam tais coisas. Uma pessoa querida fica viúva ou se separa de alguém que ela amou profundamente. Aparece 6 meses depois com outra pessa e nossa cara não esconde o "já????", como se isso nos dissesse respeito ou como se soubéssemos o que se passa dentro dela. Outro passa pela mesma situação e depois de 5 anos ainda esta sozinha, e vamos bem intencionadamente perguntar se não está na hora da pessoa se refazer. O ponto aqui é algo de que Lacan diz fazer parte de um processo de análise mas que podemos fazer uma analogia para a vida: o tempo não é cronológico, ele é lógico. E, sendo assim, esse tempo de cada indivíduo passa por três fases: instante de ver, tempo de compreender e momento de concluir. Isso varia absurdamente de uma pessoa pra outra. A pessoa vive a situação, elabora e segue. Important

RESILIÊNCIA..ATÉ QUANDO?

Até quando? A partir de que momento a resiliência pode virar uma violência contra si mesmo? Muito presente em "textão" de rede social hoje, a resiliência é a capacidade que temos de seguir em frente após uma adversidade. É também uma capacidade de se adaptar a contextos emocionais inicialmente estranhos ou dolorosos. Vivemos uma época de festejar a resiliência e dar aos resilientes troféus de participação na vida. Veja bem, seguir em frente depois de uma tempestade é bom, curar-se depois de uma enorme decepção também. Conseguir sobreviver aos infortúnios é algo a se comemorar. Mas qual o limiar entre ser resiliente e se violentar? E se estamos pagando de resilientes mas apenas engrossando o casco e por dentro, bem no fundo, ressentidos com a vida e com os relacionamentos? Isso é algo para questionarmos a nós mesmos. Porque valores culturais também viram moda, e o discurso da resiliência parece estar seguindo por esse caminho. Não se trata aqui da apologia ao fracas

RELACIONAMENTO NOS TEMPOS ATUAIS: AINDA É POSSÍVEL?

Receber amor é a coisa mais desejada pelo ser humano. Desde muito pequenos nos identificamos às figuras de pai e mãe ou quem quer que faça essa função pelo amor que recebemos, ou mesmo pelo amor negado. Se recebemos, nos sentimos plenos e felizes; se nos é negado, podemos passar uma vida esperando alguma migalha de amor e fazemos jogo com isso ou mesmo podemos repetir o papel daquele que nega amor. De toda forma, o modelo familiar tem coordenadas culturais que dão muito do tom do que se chama de amor. O amor romântico não existiu até o século XVII, por exemplo. Casamento era negócio entre famílias. Hoje estamos passando por profundas transformações na configuração cultural dos relacionamentos amorosos. Nas gerações de nossos avós e pais, as mulheres eram submetidas a casamentos infelizes sem poder se separar porque a sociedade as consideraria meretrizes. Poucas furaram esse bloqueio e pagaram o preço por isso. As meninas eram ensinadas desde a tenra infância (arrisco dizer que em

VERDADES E MENTIRAS

Nascemos e somos criados ouvindo e vivendo uma história familiar particular. A partir dela, construímos muito do que somos e da nossa visão de mundo, seja pra reafirmar ou pra negar o que vivemos e os exemplos familiares que tivemos. A gente muitas vezes não se dá conta das mentiras que estruturam nosso "romance familiar", eufemismos e panos quentes colocados sobre palavras e feridas e passamos a agir como se nunca tivessem existido ou sido ditas. Temos o nosso próprio cemitério emocional, onde jazem restos mortos de nós mesmos, mas com um único inconveniente: esses restos mortos falam. Falam do que não queremos saber mas já sabemos de cor, gritam o que queremos silenciar e movimentam o que queremos anestesiar. Às vezes funciona e nosso cemitério mentiroso e silencioso está lá com a grama verde e lápides limpinhas sob um lindo sol. Mas tem hora que  vem a tempestade,  os túmulos internos se revolvem e somos tomados pela angústia e medo da escuridão. A questão é: o que n