RESILIÊNCIA..ATÉ QUANDO?

Até quando?
A partir de que momento a resiliência pode virar uma violência contra si mesmo?

Muito presente em "textão" de rede social hoje, a resiliência é a capacidade que temos de seguir em frente após uma adversidade. É também uma capacidade de se adaptar a contextos emocionais inicialmente estranhos ou dolorosos.

Vivemos uma época de festejar a resiliência e dar aos resilientes troféus de participação na vida. Veja bem, seguir em frente depois de uma tempestade é bom, curar-se depois de uma enorme decepção também. Conseguir sobreviver aos infortúnios é algo a se comemorar.

Mas qual o limiar entre ser resiliente e se violentar? E se estamos pagando de resilientes mas apenas engrossando o casco e por dentro, bem no fundo, ressentidos com a vida e com os relacionamentos?

Isso é algo para questionarmos a nós mesmos. Porque valores culturais também viram moda, e o discurso da resiliência parece estar seguindo por esse caminho.

Não se trata aqui da apologia ao fracasso ou a ficar estagnado na vida. Não. Apenas precisamos pensar se estamos seguindo o fluxo do discurso do nosso tempo ou estamos vivendo experiências que realmente nos tornem mais fortes e acrescentem algo de valor a nossa vida.

Pois o discurso do capitalista, do qual Lacan se ocupou e falou em sua obra, pode estar nos impregnando de resiliência quando às vezes não aguentamos nem andar, pelo simples fato de que temos que continuar a ser produtivos a qualquer custo para o sistema em que vivemos. Afinal, o capitalismo não aceita fracassados ou deprimidos. O patrão não quer saber que você está com uma dor mortal de ter perdido seu casamento ou seu pai. Os amigos mais bem intencionados lhe falam "levanta a cabeça e sai  dessa",  quando às vezes você precisa de um pouco de compreensão para a ferida imensa que está pulsando ainda.

Por isso, há que se cuidar para que a resiliência não deixe de ser uma capacidade e vire um imperativo categórico. Porque tem momentos que não conseguimos seguir em frente. Que precisamos fechar pra balanço. Que precisamos de uma grande pausa porque naquele momento não conseguimos fazer nada além de sofrer. Mas somos obrigados a ter que sofrer só as horas contadas por um relógio alheio que marca o tempo regulamentar para chorar, sem direito a prorrogação: passou disso, somos expulsos do Paraíso da resiliência e dados como inconvenientes fracassados dos quais até os amigos se escondem.

Entenda: resiliência é boa, vivida de forma sincera faz parte de muitos processos de cura emocional. Mas temos que ter cuidado para, ao buscar a cura, não nos envenenarmos com o remédio.

Psicanálise pura e simples assim.
Crica Viegas

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