Dia dos Pais
Esse é o fim de semana dos pais. Quem tem o seu, por favor aproveite.
O meu não se deixou ser aproveitado pelos filhos. Não quis. Isso foi o que pensei por anos. Mas ele não pode.
Alcoólatra desde os 13 anos. Dá pra imaginar o estrago que isso faz na vida de um ser humano e sua família. Mas a verdade é que como filho a gente só se sente rejeitado, na infância não tem como elaborar isso nem ter nenhuma compreensão da profundidade do problema. E por não deixar a gente se aproximar ele sempre foi sozinho. Herdei essa forte sensação de solidão.
Filhos de pais alcoólatras têm poucas lembranças da infância. Pelo menos das boas. Não têm as boas recordações de aniversário, Natal, Páscoa...Essas datas são sempre um martírio pois a pessoa se embriaga e estraga a festa. Ou nem acontece a festa se a pobreza material não permite nem a comida do dia a dia, que dirá festas.
Filhos de pais alcoólatras acham todas as garrafas de bebidas lindas. Talvez pra tentar entender a sedução que aquilo exerceu sempre sobre aquele a quem se amou. Sabem que podem ter herdado a propensão. Uns repetem, outros correm na direção oposta.
Filhos de pais alcoólatras têm mães tristes. Ansiosas. Mães que se esforçam pra fazer os dois papéis e nem sempre são bem sucedidas. E por isso se frustram. E ficam mais tristes.
Filhos de pais alcoólatras tendem a achar que não são bons em nada. Pois quem não pode se doar raramente tem uma palavra de incentivo e encorajamento ao pequeno ser que vaga pela casa.
Filhos de pais alcoólatras são desconfiados e muitas vezes afastam as pessoas. Por puro medo do abandono. Para eles é melhor escorraçar do que ser escorraçados. Parece que dói menos. Mas apenas parece.
Filhos de pais alcoólatras não acreditam que sejam objeto se amor. Nunca foram. Não sabem lidar com esse afeto que vem do outro. Precisam ser ensinados a se sentirem amados e podem arranhar e se debater muito no meio do processo de aprendizagem. É preciso ter paciência com eles. São extremamente medrosos de receber e depois voltar a ficar sós.
Dia dos pais de filhos assim é sempre triste. Pois é difícil de compreender que haja um dia a comemorar esse pai. Encerrado em si mesmo, incapaz de ver além de seu fracasso.
Essa é a cena 1 da vida de muita gente. Cena que precisa ser relembrada para então ser elaborada de uma forma que não se queira mais morrer. Precisa ser trabalhada para que se dê o perdão e se perdoe na cena 2 para enfim seguir com a vida numa cena 3 mais fortalecida e menos solitária, ou pelo menos para identificar de onde vem essa sensação de ser só e lidar com ela com menos dor.
É preciso que filhos de pais alcoólatras se deem uma chance. Para que não tenham mais o álcool como veículo de expressão de sentimento. E que deem lugar ao amor. Se não puderam aproveitar seu próprio pai, aproveitem o pai de seus filhos e dos filhos de seus filhos.
"Amar é dar o que não se tem". Lacan
O meu não se deixou ser aproveitado pelos filhos. Não quis. Isso foi o que pensei por anos. Mas ele não pode.
Alcoólatra desde os 13 anos. Dá pra imaginar o estrago que isso faz na vida de um ser humano e sua família. Mas a verdade é que como filho a gente só se sente rejeitado, na infância não tem como elaborar isso nem ter nenhuma compreensão da profundidade do problema. E por não deixar a gente se aproximar ele sempre foi sozinho. Herdei essa forte sensação de solidão.
Filhos de pais alcoólatras têm poucas lembranças da infância. Pelo menos das boas. Não têm as boas recordações de aniversário, Natal, Páscoa...Essas datas são sempre um martírio pois a pessoa se embriaga e estraga a festa. Ou nem acontece a festa se a pobreza material não permite nem a comida do dia a dia, que dirá festas.
Filhos de pais alcoólatras acham todas as garrafas de bebidas lindas. Talvez pra tentar entender a sedução que aquilo exerceu sempre sobre aquele a quem se amou. Sabem que podem ter herdado a propensão. Uns repetem, outros correm na direção oposta.
Filhos de pais alcoólatras têm mães tristes. Ansiosas. Mães que se esforçam pra fazer os dois papéis e nem sempre são bem sucedidas. E por isso se frustram. E ficam mais tristes.
Filhos de pais alcoólatras tendem a achar que não são bons em nada. Pois quem não pode se doar raramente tem uma palavra de incentivo e encorajamento ao pequeno ser que vaga pela casa.
Filhos de pais alcoólatras são desconfiados e muitas vezes afastam as pessoas. Por puro medo do abandono. Para eles é melhor escorraçar do que ser escorraçados. Parece que dói menos. Mas apenas parece.
Filhos de pais alcoólatras não acreditam que sejam objeto se amor. Nunca foram. Não sabem lidar com esse afeto que vem do outro. Precisam ser ensinados a se sentirem amados e podem arranhar e se debater muito no meio do processo de aprendizagem. É preciso ter paciência com eles. São extremamente medrosos de receber e depois voltar a ficar sós.
Dia dos pais de filhos assim é sempre triste. Pois é difícil de compreender que haja um dia a comemorar esse pai. Encerrado em si mesmo, incapaz de ver além de seu fracasso.
Essa é a cena 1 da vida de muita gente. Cena que precisa ser relembrada para então ser elaborada de uma forma que não se queira mais morrer. Precisa ser trabalhada para que se dê o perdão e se perdoe na cena 2 para enfim seguir com a vida numa cena 3 mais fortalecida e menos solitária, ou pelo menos para identificar de onde vem essa sensação de ser só e lidar com ela com menos dor.
É preciso que filhos de pais alcoólatras se deem uma chance. Para que não tenham mais o álcool como veículo de expressão de sentimento. E que deem lugar ao amor. Se não puderam aproveitar seu próprio pai, aproveitem o pai de seus filhos e dos filhos de seus filhos.
"Amar é dar o que não se tem". Lacan
Comentários
Venho convidar-lhe pessoalmente para a nossa VI Interação de Natal...
http://www.idade-espiritual.com.br/2010/12/blogagem-coletiva-natal_08.html
O alcoolismo é uma droga tremenda, tenho na família também...
Bjm fraterno