TOMBO EMOCIONAL

Por que a palavra tombo? (no vocabulário psicanalítico chama-se significante). Talvez porque haja aí uma verdadeira queda das nossas certezas, crenças e daquilo que pensávamos até o momento desse evento, que pode ser um fim, um recomeço, morte de alguém querido, ser traído na confiança em alguém. Uma porta fechada quando já estávamos com a mão na maçaneta. Um corte repentino.

O fato é que a gente leva muitos tombos em nossas certezas, amores, em situações nossas como pessoas. Provavelme esse tombo emocional que você acabou de tomar não foi o primeiro nem será o último. Bem vindo ao mundo!

Tombo machuca. Rala. Traz escoriações. Deixa por uns instantes sem saber o que aconteceu. Uma pancada nos nossos sentidos que os confundem todos. É preciso esperar para que a gente perceba o que cada um nos diz naquele momento.

O nosso tombo é algo do qual a sociedade ri e a gente se envergonha. E a gente ri do tombo do outro que se envergonha. Porque só sabe da dor do tombo quem cai.

Tombo é um instante. É rápido. A gente não sabe como resvalou e foi ao chão tão prontamente, não deu tempo de segurar naquele corrimão que parecia tão perto...
Não há mais nada a fazer nos primeiros minutos. Apenas sentir a dor e a vergonha. Verificar se algo na alma se quebrou, luxou ou apenas ralou. Que de apenas não tem nada porque ralado na pele da alma dói que nem uma condenação.

Mas...depois do tombo, o levante. A gente ainda ta atordoado, meio capenga, quer maldizer alguém porque acha que foi culpa do outro que não viu (ou viu?) aquela pedra na qual a gente pisou e escorregou. A primeira tentativa de defesa: culpar o outro.

A gente levanta meio torto. Mas precisa seguir. Não há outra opção. Até há: ficar estatelado no chão enquanto a vida não espera.
Os primeiros passos serão muito doloridos. Parece que a alma travou. Aquela fechada de porta, aquele não, aquela traição, aquela decepção, tudo ressoa na nossa cabeça. O que fazer com isso? Com essa sensação de ter sido deixado pelo caminho? Parece que a mais difícil e mais libertadora: levantar, escorar-se em si ou até algum transeunte que se oferece a nos ajudar nos primeiros passos, e seguir.

Não foi o primeiro. Não será o último.
Nessa horas vem a lembrança da canção: "Deixemos de coisa e cuidemos da vida
Pois, e se nos chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida?"

Crica Viegas


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