AMOR E DEPENDÊNCIA
Dependência tem se tornado uma palavra de cunho pejorativo na sociedade em que vivemos. Na era da autonomia e de pensamentos como "eu me basto", "eu me banco", "não devo nada a ninguém", parece que estamos nos perdendo em algumas coisas.
Encaramos a dependência como algo doentio, e ela pode ser mesmo. Só que não é só isso.
Lacan disse que "amar é dar o que não se têm a quem não o quer", frase difícil e que rende simpósios até hoje. Mas amar é isso: dar ao outro a minha falta e, com isso, esperar desse outro que essa falta retorne para mim em amor. Só que o outro também é um ser com um imenso buraco no ser, e se relacionar é tentar equilibrar essas expectativas.
Amar também é depender em alguma medida. Amamos nossa família; dependemos de estar bem em família para sermos felizes. Amamos nossos filhos; se eles estão tristes a nossa alegria não é completa. Amamos nosso par e dependemos da relação ir bem para que estejamos bem também.
Ou seja: amar alguém nos faz depender de alguma forma desse outro. Nossos relacionamentos guiam nossa vida emocional: se vão bem, assim também estaremos. Se não, pode ser que isso atrapalhe todas as outras áreas da nossa vida, mesmo que vivamos negando isso.
A dependência saudável do amor é aquela que nos faz bem. É gostar de fazer pelo outro sem se anular, e se sentir amado quando isso é feito em nossa direção. É ver aquele filme chato porque o outro ama, mas não ver a vida toda um estilo de filme que você odeia. É planejar juntos a aquisição de algo e se importar com a opinião do outro, deixando a sua o mais clara possível. É saber sair de uma situação onde percebemos claramente que nosso amor está em apuros no sentido emocional,e não "que se vire sozinho". Parece discurso do século retrasado?
Não é não rs. Isso tudo não quer dizer que não possamos e devamos ter individualidade num relacionamento. Podemos adquirir coisas sem consultar, sair sozinhos, pedir o prato preferido sem melindres de que o outro vá se aborrecer no restaurante, escolher nao se relacionar com um determinado parente do lado de lá e dar o mesmo direito.
É uma balança na qual a gente se equilibra entre amar a si mesmo e ao outro. Se faltar o tal do amor próprio, o amor que oferecemos não será de boa qualidade, mas se só amo o que eu quero e vou fazer e nunca considero que são dois e não um, para que eu quero um relacionamento?
É nessa balança que a dependência se equilibra. Quando está demais, devemos retirar algumas bagagens daquela relação; se de menos, não custa acrescentar vontade de estar junto, que é o que de fato sustenta qualquer união amorosa: querer fazer par. Se é pra ser um o tempo todo, fique consigo mesmo apenas e será melhor do que carregar as responsabilidades de um relacionamento.
Freud também disse algo interessante: "em última instância, é preciso amar para não adoecer".
Psicanálise pura e simples assim.
Crica Viegas
Encaramos a dependência como algo doentio, e ela pode ser mesmo. Só que não é só isso.
Lacan disse que "amar é dar o que não se têm a quem não o quer", frase difícil e que rende simpósios até hoje. Mas amar é isso: dar ao outro a minha falta e, com isso, esperar desse outro que essa falta retorne para mim em amor. Só que o outro também é um ser com um imenso buraco no ser, e se relacionar é tentar equilibrar essas expectativas.
Amar também é depender em alguma medida. Amamos nossa família; dependemos de estar bem em família para sermos felizes. Amamos nossos filhos; se eles estão tristes a nossa alegria não é completa. Amamos nosso par e dependemos da relação ir bem para que estejamos bem também.
Ou seja: amar alguém nos faz depender de alguma forma desse outro. Nossos relacionamentos guiam nossa vida emocional: se vão bem, assim também estaremos. Se não, pode ser que isso atrapalhe todas as outras áreas da nossa vida, mesmo que vivamos negando isso.
A dependência saudável do amor é aquela que nos faz bem. É gostar de fazer pelo outro sem se anular, e se sentir amado quando isso é feito em nossa direção. É ver aquele filme chato porque o outro ama, mas não ver a vida toda um estilo de filme que você odeia. É planejar juntos a aquisição de algo e se importar com a opinião do outro, deixando a sua o mais clara possível. É saber sair de uma situação onde percebemos claramente que nosso amor está em apuros no sentido emocional,e não "que se vire sozinho". Parece discurso do século retrasado?
Não é não rs. Isso tudo não quer dizer que não possamos e devamos ter individualidade num relacionamento. Podemos adquirir coisas sem consultar, sair sozinhos, pedir o prato preferido sem melindres de que o outro vá se aborrecer no restaurante, escolher nao se relacionar com um determinado parente do lado de lá e dar o mesmo direito.
É uma balança na qual a gente se equilibra entre amar a si mesmo e ao outro. Se faltar o tal do amor próprio, o amor que oferecemos não será de boa qualidade, mas se só amo o que eu quero e vou fazer e nunca considero que são dois e não um, para que eu quero um relacionamento?
É nessa balança que a dependência se equilibra. Quando está demais, devemos retirar algumas bagagens daquela relação; se de menos, não custa acrescentar vontade de estar junto, que é o que de fato sustenta qualquer união amorosa: querer fazer par. Se é pra ser um o tempo todo, fique consigo mesmo apenas e será melhor do que carregar as responsabilidades de um relacionamento.
Freud também disse algo interessante: "em última instância, é preciso amar para não adoecer".
Psicanálise pura e simples assim.
Crica Viegas
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