CRISE DE PÂNICO: UM RELATO

Meu mar, que raramente é liso e calmo, começa a se agitar de uma forma que já sei como será.

Sinto as ondas vindo, formando-se cada vez mais fundas e fortes. A vontade de me debater para me salvar toma conta dos meus pensamentos, que ao mesmo tempo são invadidos por um esperar a sequência de ondas acalmar.

Me deixo ir.

Muitas reviravoltas nauseantes em poucos minutos. A falta do que se agarrar nessa hora se intensifica ao quase insuportável. Entro em estado de choques ininterruptos com o movimento das ondas que parecem não ter fim. Parece que o peito vai explodir tentando encontrar o ar.

Uma vaga mais gigantesca me atinge. Outras menores também. E vou sendo direcionada a um patamar onde já sinto o chão de areia nos pés, mas ainda estou sem forças para firmá-los.

A sequência delas após aquela gigantesca finalmente me joga na praia.
Consigo enfim sentir minha respiração. Desordenada. Engasgada ainda. Mas vai acalmando.

Agora escuto mais de longe o bater das ondas.

O suor do corpo se misturou à água do mar e por isso não percebi que eu fervia. Agora parece que algo religou por dentro e ele começa a esfriar de novo.

A respiração vai se ordenando. A ebulição histérica vai sendo aplacada.
Parece que a frequência dos batimentos vai normalizando a música da alma. A orquestra interior se silencia.

Consegui passar por mais um mar bravio.

Crica Viegas,
Primavera de 2016.

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