O INCONSCIENTE E AS ESCOLHAS AMOROSAS
As nossas primeiras referências de vida são os pais ou quem quer que tenha estado nessa função: avós, tios, mães e pais de criação (algo muito brasileiro), madrinhas e padrinhos, enfim...pessoas que estiveram conosco nos primeiros momentos de vida ou durante a infância e que fizeram em nós as primeiras marcas de amor e de dor.
Dessa relação, fica em nós uma espécie de imagem psicológica gravada dessas primeiras impressões. A psicanálise tomou de Jung o termo e conceito chamado "Imago" para falar sobre essa confluência de características psicológicas e mesmo traços físicos, trejeitos, toques, cheiros, maneirismos dessas figuras que nos marcam desde a tenra infância e acabam por se tornar algo que buscamos em todos os outros relacionamentos que teremos ao longo da vida.
Mesmo que tenhamos sido criados por pai e mãe, às vezes um avô ou uma tia muito próxima acabou sendo, por uma questão de identificação nossa, mais referencial do que os pais mesmo. Um irmão ou irmã mais velhos também podem ter feito esse papel. Isso quer dizer que a identificação com figuras de referência que damos a importância de pai ou de mãe vai além do laço sanguíneo. Freud já sinalizava isso e Lacan veio confirmar quando falou que paterno é uma função, não necessariamente o ser biológico, e também se utilizou várias vezes do termo "imago" em seus Escritos para se referir a essa identificação infantil que todo mundo faz com quem é imprescindível para cada um.
De toda forma, essa imago acaba sendo como um farol que nos guiará em nossas escolhas de amor (e também de dor e sofrimento, sim) pela vida. Nossos relacionamentos têm muito de continuação do modo como nos relacionamos familiarmente desde pequenos. Ou não. Às vezes nossa experiência de origem possa ter sido tão ruim que vamos em sentido radicalmente oposto. Mas o fato é que a gente procura o amor "de criança" em todos os amores da vida: a imago paterna, materna, familiar, é muito forte e vamos procurar em amigos e amores essas características parecidas com quem amamos na infância. O inconsciente dá o tom da nossa busca sem que a gente na maioria das vezes se dê conta.
É mais comum do que a gente imagina ter um amigo que se parece com aquele irmão querido que faleceu e deixou um buraco imenso. Um amor que lembra um jeito do pai ou da mãe, um trejeito de um amor antigo que não foi consumado, porque a verdade é que estamos na vida procurando amor, e um amor que nos deixe felizes como na inocência da infância.
E isso é inconsciente. Quantas vezes quando estamos "de fora" não vemos no segundo casamento o cônjuge com o mesmo nome do primeiro, ou parecido em alguma coisa e não entendemos como a pessoa que está no relacionamento não percebeu isso? Ou mulheres que só se relacionam com homens que tenham uma postura paternal ou vice-versa. Esses sao apenas alguns exemplos, pois os casos são inúmeros de acordo com a singularidade da história de cada um.
Não quer dizer que seja ruim ou bom querer perto de nós o calor do amor que nos é familiar. Mas é preciso prestar atenção se começar a haver uma dependência extrema do outro, uma anulação recorrente do próprio eu em seu favor, não estar feliz e achar que "é assim mesmo" ou "um dia melhora".
A imago familiar é como uma marca d'água na nossa psique: ela vai estar na base do que projetamos para amor e relacionamentos. Então que seja para o nosso crescimento e não para nos adoecer.
Psicanálise pura e simples assim.
Crica Viegas
Dessa relação, fica em nós uma espécie de imagem psicológica gravada dessas primeiras impressões. A psicanálise tomou de Jung o termo e conceito chamado "Imago" para falar sobre essa confluência de características psicológicas e mesmo traços físicos, trejeitos, toques, cheiros, maneirismos dessas figuras que nos marcam desde a tenra infância e acabam por se tornar algo que buscamos em todos os outros relacionamentos que teremos ao longo da vida.
Mesmo que tenhamos sido criados por pai e mãe, às vezes um avô ou uma tia muito próxima acabou sendo, por uma questão de identificação nossa, mais referencial do que os pais mesmo. Um irmão ou irmã mais velhos também podem ter feito esse papel. Isso quer dizer que a identificação com figuras de referência que damos a importância de pai ou de mãe vai além do laço sanguíneo. Freud já sinalizava isso e Lacan veio confirmar quando falou que paterno é uma função, não necessariamente o ser biológico, e também se utilizou várias vezes do termo "imago" em seus Escritos para se referir a essa identificação infantil que todo mundo faz com quem é imprescindível para cada um.
De toda forma, essa imago acaba sendo como um farol que nos guiará em nossas escolhas de amor (e também de dor e sofrimento, sim) pela vida. Nossos relacionamentos têm muito de continuação do modo como nos relacionamos familiarmente desde pequenos. Ou não. Às vezes nossa experiência de origem possa ter sido tão ruim que vamos em sentido radicalmente oposto. Mas o fato é que a gente procura o amor "de criança" em todos os amores da vida: a imago paterna, materna, familiar, é muito forte e vamos procurar em amigos e amores essas características parecidas com quem amamos na infância. O inconsciente dá o tom da nossa busca sem que a gente na maioria das vezes se dê conta.
É mais comum do que a gente imagina ter um amigo que se parece com aquele irmão querido que faleceu e deixou um buraco imenso. Um amor que lembra um jeito do pai ou da mãe, um trejeito de um amor antigo que não foi consumado, porque a verdade é que estamos na vida procurando amor, e um amor que nos deixe felizes como na inocência da infância.
E isso é inconsciente. Quantas vezes quando estamos "de fora" não vemos no segundo casamento o cônjuge com o mesmo nome do primeiro, ou parecido em alguma coisa e não entendemos como a pessoa que está no relacionamento não percebeu isso? Ou mulheres que só se relacionam com homens que tenham uma postura paternal ou vice-versa. Esses sao apenas alguns exemplos, pois os casos são inúmeros de acordo com a singularidade da história de cada um.
Não quer dizer que seja ruim ou bom querer perto de nós o calor do amor que nos é familiar. Mas é preciso prestar atenção se começar a haver uma dependência extrema do outro, uma anulação recorrente do próprio eu em seu favor, não estar feliz e achar que "é assim mesmo" ou "um dia melhora".
A imago familiar é como uma marca d'água na nossa psique: ela vai estar na base do que projetamos para amor e relacionamentos. Então que seja para o nosso crescimento e não para nos adoecer.
Psicanálise pura e simples assim.
Crica Viegas
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